Os últimos anos tem sido especiais para a Ficção Científica brasileira. Gênero de grande sucesso de público no país, tem visto uma cres...

09:16:00 by marcelo engster

Os últimos anos tem sido especiais para a Ficção Científica brasileira. Gênero de grande sucesso de público no país, tem visto uma crescente na produção nacional. Sucessos de crítica como “Branco Sai, Preto Fica” de Adirley Queirós e  “Uma História de Amor e Fúria” de Luiz Bolognesi e de público como "O Homem do Futuro" de Cláudio Torres e a série “3%” produzida pela Netflix tem puxado também a produção de Sci Fi nacional em literatura e quadrinhos.  Nas HQs, destaque para Zé Wellington, com uma produção contemplando gêneros como o Steampunk (Steampunk Ladies) e o Cyberpunk (Cangaço Overdrive). Conversamos com o roteirista sobre seus processos criativos: 



Por que escolheu trabalhar com ficção científica? Quais são os temas que você gosta de abordar dentro desse gênero?
Eu sempre curti o gênero, mas sempre me mantive bem aberto sobre que tipo de coisas eu escrevia, de fantasia a trabalhos mais realistas. Mas olhando para trás na minha carreira vejo um quadrinho steampunk e um cyberpunk como meus trabalhos mais recentes e talvez no fim das contas eu seja mesmo predominantemente um escritor de ficção científica. Provavelmente isso começou no cinema, mais especificamente na Sessão da Tarde, que educou o jovem Zé na sua infância e adolescência, embaladas por George Lucas e Steven Spielberg.

Como você vê a produção de ficção científica no Brasil? Por que ela é importante?
Para o leitor, o momento nunca foi tão propício, com editoras grandes como Aleph e Darkside fazendo um ótimo trabalho. É uma pena que os autores brasileiros tenham poucos espaços para publicação, concentrando-se em poucas pequenas editoras (como a Editora Draco). Isso acaba agravando o problema do pouco espaço na mídia para a produção brasileira. E ainda sinto que quem escreve fora do gênero especulativo a considera um tipo de literatura menor.

Cangaço Overdrive
Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Quando era criança tentei algumas vezes produzir meus próprios quadrinhos. Mas nunca terminava. O tempo passou e comecei a me dedicar mais intensamente à literatura. Até o dia em que surgiu a ideia de fazer o roteiro para um quadrinho do mascote de um evento que eu organizava. O resto é história. Difícil foi voltar para a literatura depois disso. Já são 15 anos de zines, webcomics e, agora, álbuns impressos de quadrinhos.

Normalmente a deadline são eventos de quadrinhos onde gostaria de estar com um trabalho novo.

Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
As rotinas mudam um pouco de projeto para projeto, mas no geral eu parto de uma ideia maior resumida numa página. O difícil é chegar nesta pagina de argumento, o que só acontece depois de um período de imersão no tema (lendo muito  e vendo bastante coisas sobre). Depois dela a história vai sendo “fragmentada”: ela é quebrada em capítulos, depois os capítulos quebrados em páginas e depois as páginas quebradas em quadros. Gosto de estipular metas (apesar de nem sempre conseguir alcançá-las). Normalmente a deadline são eventos de quadrinhos onde gostaria de estar com um trabalho novo.

Steampunk Ladies
Quais suas principais referências? O que te inspira?
Na maioria das vezes o momento da inspiração vem no momento em que estou vendo filmes, lendo livros ou quadrinhos ou ouvindo músicas. Minhas principais influências são Alan Moore, Rubem Fonseca, Quentin Tarantino, Will Eisner, Brian Michael Bendis e Garth Ennis.

Você faz alguma pesquisa para suas histórias?

Muita. Toda história minha começa com bastante imersão no tema do que estou escrevendo. Durante o período em que escrevi Cangaço Overdrive, basicamente só li livros relacionados a cyberpunk e sertão.

O que faz quando tem o famoso branco?
Se eu tenho um prazo, simplesmente escrevo a primeira coisa que vier a mente. E sigo em frente. Em algum momento vou voltar no que escrevi naquele período e revisar. O importante é evitar parar. Mas se o negócio for sério mesmo (e eu não tiver prazo), vou escrever outra coisa diferente e volto depois.

Cangaço Overdrive
Qual a importância das personagens para as histórias? Qual seu trabalho de desenvolvimento de personagens?
As personagens tem papel crucial. Considero, inclusive, um ponto das minhas histórias que gostaria de melhorar. Para ajudar a desenvolver, hoje tenho usado algumas técnicas do livro Story, do Robert McKee. Recomendo a leitura.

Hoje a maior parte das minhas histórias parte de problemas que me incomodam.

Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Primeiramente é preciso produzir constantemente. É desafiador e cheio de obstáculos, mas é preciso constância. Dentro da história, a conexão é estabelecida quando o leitor identifica no personagem questionamentos pelos quais ele também passa. Hoje a maior parte das minhas histórias parte de problemas que me incomodam.

Na “vida real” sou professor universitário e tenho uma agência de publicidade.

Você consegue viver de quadrinhos?
Eu consigo viver de ler quadrinhos (risos). Mas se a pergunta é se me sustento da minha produção de quadrinhos, a resposta é não, infelizmente. Na “vida real” sou professor universitário e tenho uma agência de publicidade.

Steampunk Ladies
Quais as dificuldades do mercado brasileiro?
As vendas pequenas impossibilitam qualquer pessoa de sonhar com uns trocados fazendo quadrinhos diretamente. Uma parte desse problema rola por que os quadrinhos nacionais ainda tem dificuldade para chegar na casa do leitor brasileiro, por uma série de motivos e culpa das duas partes. É um tema complexo e que faz que o mercado de quadrinhos brasileiro seja um lugar de gente apaixonada, mas desprendida de grana.

(...) os quadrinhos me levaram para lugares incríveis e me fizeram conhecer pessoas sensacionais. É por elas que eu ainda continuo dando murro em ponta de faca.

O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
Já perdi as contas de quantas vezes pensei em desistir de escrever quadrinhos. Mas os quadrinhos me levaram para lugares incríveis e me fizeram conhecer pessoas sensacionais. É por elas que eu ainda continuo dando murro em ponta de faca.

O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Estude e produza sem parar. Mas tenha um plano A.


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