“Muitas vezes é uma catarse fazer uma página e eu chego até a chorar. Ajuda a fazer uma limpeza na alma, sabe. Como uma terapia.” Essa ...

08:07:00 by marcelo engster

“Muitas vezes é uma catarse fazer uma página e eu chego até a chorar. Ajuda a fazer uma limpeza na alma, sabe. Como uma terapia.” Essa é a relação de Alice Pereira com a produção dos seus quadrinhos. Suas HQs autobiográficas abordam a transexualidade, tem conquistado um expressivo número de seguidores nas redes e levado conforto para pessoas que se identificam com a situação. Conversamos com a quadrinhista sobre seus processos criativos. Confere:



Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Bem, como todo mundo que faz quadrinhos sempre amei quadrinhos desde criança e sempre gostei de desenhar, mas não acreditava que poderia produzir quadrinhos, era como se fosse uma coisa meio distante da realidade, que eu não teria capacidade pra fazer. Em 2006 deu um clique na minha cabeça e pensei que eu poderia fazer sim. Então comecei a fazer cursos na área. Depois de um ano só fazendo exercícios de desenho vi que eu precisava começar a desenhar quadrinhos pra valer e comecei a escrever sobre a história do petróleo, pois trabalhava com isso como engenheira. Paralelamente eu tinha uma página de tiras no facebook, chamada Ratman onde escrevia sobre política. Em 2016 publiquei um livro sobre a história de petróleo em quadrinhos. Foi o meu primeiro e único até o momento. 

Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Tenho uma rotina sim. No meu trabalho atual tenho a meta de publicar uma página por semana. Nesse caso estou aproveitando meu diário pessoal, que escrevo do jeito que as coisas vem na minha cabeça, de forma meio desordenada. A partir desse texto escrevo um roteiro detalhando todos os quadros, imaginando as cenas e descrevendo o texto e depois parto pra desenhar. Hoje todo meu desenho é feito no computador. Não uso lápis e papel. 

Muitas vezes é uma catarse fazer uma página e eu chego até a chorar. Ajuda a fazer uma limpeza na alma, sabe. Como uma terapia.

Seus quadrinhos são em grande parte autobiográficos. Eles te ajudam de alguma forma?
Nossa, ajudam muito! Muitas vezes é uma catarse fazer uma página e eu chego até a chorar. Ajuda a fazer uma limpeza na alma, sabe. Como uma terapia. E depois que publico vejo a reação de muitas pessoas que passam pela mesma situação que eu passo ou passei e isso é reconfortante pra mim.

Como é sua relação com o seu público? Como faz para chegar até o leitor?
Bem, eu basicamente publico no Facebook e Instagram. Costumo compartilhar no meu feed e em grupos que tem afinidade com o tema. É um trabalho de formiguinha. a cada tira postada ganho algumas dezenas de curtidas na página, mas o processo é lento.


Quais suas principais referências? O que te inspira?
Tenho inspiração em quadrinhos biográficos ou autobiográficos, como Persépolis, Maus, as histórias do Guy Delisle, Chester Brown e Margaux Motim. Os livros do Scott McCloud me ajudaram muito na construção da narrativa. Esteticamente me inspiro em Moebius (por incrível que pareça), Chris Ware, Joan Cornellá, Osamu Tezuka e até Marcatti. 

poder transmitir a minha vivência, trazer para o público geral a minha realidade e de tantas outras pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu e não tem voz.

O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
Em primeiro lugar o amor pela arte. Mas também poder transmitir a minha vivência, trazer para o público geral a minha realidade e de tantas outras pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu e não tem voz. Discutir assuntos que ainda são um tabu e são muito pouco discutidos na sociedade.

O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Olha, eu considero que ainda estou começando e acho que também preciso de conselhos. Rs. Mas eu diria que a pessoa tem que colocar suas ideias no papel. Por mais simples que elas sejam. Por mais que não pareçam bem acabadas. A melhor coisa é o exercício. E publicar sempre. Hoje existem muitos meios fáceis de você publicar seu trabalho. O grande problema é a remuneração. Eu ainda faço totalmente por amor e acho bem difícil ser remunerada fazendo quadrinhos autorais. A gente acaba tendo que ter outra fonte de renda. Mas a arte é muito mais importante que isso e a gente acaba conseguindo um tempo vago pra fazer o que gosta. 


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