Em março de 1972, procurando atrair a atenção do trabalhador metalúrgico e fugir da censura militar, a Tribuna Metalúrgica, jornal do Sin...

11:24:00 by marcelo engster
Em março de 1972, procurando atrair a atenção do trabalhador metalúrgico e fugir da censura militar, a Tribuna Metalúrgica, jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema criou a personagem João Ferrador.  A estratégia foi um pedido do, na época, presidente do sindicato (em algumas fontes seria Lula, em outras Paulo Vidal) para o jornalista Félix Nunes. Com o conceito definido, coube ao chargista Otávio, e depois Laerte, a criação visual de João Ferrador.


Em uma seção intitulada “Bilhetes do João Ferrador” a personagem mandava recados irônicos e duros às autoridades brasileiras. Levantava assuntos como queda do poder aquisitivo dos trabalhadores, aumento do preço dos alimentos, inflação, lutas sindicais. Tinha como bordão a frase “Hoje eu não to bom”. Segundo Eder Sader:

Representando o bom senso de um operário comum, dirige-se respeitosamente mas com desenvoltura às autoridades. E é através da ironia que ressalta dos bilhetes do “João Ferrador” que o jornal vai expressando sua distância crescente em relação ao governo. O “João Ferrador” dirige-se às autoridades (“do meu Brasil grande e potente”, como aparecia sempre) pressupondo o patriotismo destas e sua legitimidade. Afirma sua ignorância e quer ser esclarecido. Então refere-se a algum fato ou proclamação oficial e, expondo as condições concretas da vida operária, revela o absurdo de dada situação. A força da sua argumentação contrasta com a modéstia e humildade da conclusão, quando pede às autoridades que tomem providências. Provavelmente um dos fatores do êxito dessa personagem deve ter estado no equilíbrio entre sua capacidade de investir-se da postura subalterna dos dominados ao mesmo tempo que dava forma racional e consistente às profundas insatisfações com a situação. (SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo (1970-1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.)

Tirinha de Vargas (Clique para ampliar)

Apesar da propaganda política, na entrevista abaixo o jornalista Félix Nunes fala um pouco sobre a criação de João Ferrador.


O sucesso de João Ferrador foi tamanho que ele passou também a ser personagem de charges e tirinha e símbolo do jornal. Foi estampado em camisas, bonés, chaveiros, broches entre outros.

Com informações do artigo Bilhetes do João Ferrador: um gênero comunicativo da resistência sindical de Rozinaldo Antonio Miani e do site Revista Espaço Acadêmico.

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