Orlandeli está no mercado de quadrinhos desde 1994, tendo passado por diversas fases. Ilustrações, tiras, graphic novels. Sua obra ap...

18:20:00 by marcelo engster


Orlandeli está no mercado de quadrinhos desde 1994, tendo passado por diversas fases. Ilustrações, tiras, graphic novels. Sua obra apresenta muitas questões filosóficas e questionamentos sobre nosso modo de vida.  Este ano lançou, junto à Maurício de Sousa Produções, graphic novel com o personagem Chico Bento, Arvorada. Conversamos com o autor sobre seus processos criativos:



Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Comecei em 1994. Na época queria fazer tiras em quadrinhos, meio que inspirado na turma do Chiclete com Banana, Angeli, Laerte, Glauco... Comecei a publicar uma tira chamada "Violência Gratuita"

Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Tenho como rotina dedicar toda a manhã para produzir Histórias em Quadrinhos. Não importa a fase em que se encontra o projeto. Isso da constância diária ajuda bastante a manter as coisas caminhando. São pelo menos umas três a quatro horas diárias reservadas para isso. Se a fase é elaboração de roteiro, fico ali estruturando, marcando fases da história... Chegou a hora do almoço eu paro, deixo a parte da tarde para resolver e produzir outras coisas e volto ao projeto no dia seguinte. Tento não me estrangular com prazos, de varar dia e noite para entregar páginas. Trabalhar final de semana só em casos extremos. procuro me organizar para não precisar.


Quais temas gosta de abordar?
Geralmente temas que provocam um certo conflito interno, alguma inquietação que o personagem precisa aprender a lidar, tudo isso  amarrado em alguma trama meio surreal. O humor acaba sempre presente também.

tudo o que a gente consome e vive acaba servindo de combustível em algum momento.

Quais suas principais referências? O que te inspira?
Muita coisa, se for contar toda a trajetória cada fase é marcada por alguma referência. No início caminhava muito na linha do humor, da tira, então era Angeli, Laerte, Glauco... Outro absurdamente importante foi o Henfil, com seu traço simples e expressivo me dei conta que um bom desenho não é o que tem mais ou menos detalhes, mas o que conversa melhor com a proposta que você quer passar.
Depois com as HQs mais longas conheci o Frank miller, Will Eisner... Verdadeira aula de enquadramento e narrativa. Fora isso, tudo o que a gente consome e vive acaba servindo de combustível em algum momento.



Você faz alguma pesquisa para suas histórias?
Depende. Se for necessário, sim. Se estou citando algo que é real tento buscar o máximo de informação possível para melhorar meu entendimento daquilo, mesmo que a proposta não seja literal e eu reserve uma certa licença poética para determinados assuntos. Mas é bom conhecer sobre aquilo que está escrevendo.

Uma coisa que aprendi com a rotina de reservar um espaço de tempo exclusivo para as HQs é que só o fato de manter um compromisso com a produção, se manter imerso no processo, mesmo que de início pareça não vir nada que presta, depois de algum tempo insistindo a mente meio que "destrava" e começa a aparecer a história que você quer contar.

O que faz quando tem o famoso branco?
Nada! kkkkkkk Não tem muito o que fazer. Geralmente vou tomar um café, fuço em outras coisas e volto ao trabalho. Geralmente é suficiente para "engrenar". Uma coisa que aprendi com a rotina de reservar um espaço de tempo exclusivo para as HQs é que só o fato de manter um compromisso com a produção, se manter imerso no processo, mesmo que de início pareça não vir nada que presta, depois de algum tempo insistindo a mente meio que "destrava" e começa a aparecer a história que você quer contar. Aí é só ajustar o raciocínio e seguir em frente.


Qual a importância das personagens para as histórias? Qual seu trabalho de desenvolvimento de personagens?
É meio que fundamental que as personagens sejam convincentes. Se ela tem um problema, um medo... Não adianta falar isso para o leitor. tem que elaborar situações em que o leitor realmente acredite e, porque não, sinta pena, raiva, inveja... Quando penso uma personagem procuro antes de mais nada determinar qual o seu papel na história. Por que é importante ela estar lá. Partindo disso faço esse trabalho de definir personalidade, limitações... Tudo que vá contribuir para que ela execute bem a sua função dentro da história.

Qual a importância do quadro em uma história em quadrinhos?
É muito importante no aspecto narrativo e emocional. Utilizar os quadros da maneira correta você controla o ritmo da narrativa, explorando os enquadramentos cria momentos de tensão, alívio, medo... Uma ferramenta que pode e deve ser explorada ao extremo para atingir a sensação que você pretende passar ao leitor com determinada passagem da história.

Saber a hora certa de reservar um momento de suspense no final de uma ímpar, por exemplo, instiga a curiosidade do leitor em a virar a página e concluir a narrativa com algo impactante.

Quais são os cuidados na hora de diagramar uma página? Existe diferença entre o que vai em uma página ímpar e uma par?
Sempre que vou diagramar uma HQ penso em páginas duplas. Tanto pela noção geral do design narrativo da dupla, que é a visão do leitor, como pelo controle de "virada de página". Saber a hora certa de reservar um momento de suspense no final de uma ímpar, por exemplo, instiga a curiosidade do leitor em a virar a página e concluir a narrativa com algo impactante.

 

Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Estar presente. Participar de eventos. Manter uma boa relação nas redes sociais e, acima de tudo, procurar ajudar o seu leitor a encontrar a sua HQ. Seja distribuindo em livrarias, mantendo uma loja on line, divulgando os canais.


Quais as dificuldades do mercado brasileiro?
Penso que o crescimento de um público leitor que tenha o hábito de consumir quadrinhos de forma mais ampla. Não um ou outro personagem, mas ter o hábito de conhecer novas histórias, conhecer novos autores... Já melhorou bastante, aos poucos o autor brasileiro tem conquistado seu espaço.

Se o seu quadrinho está bem comentado, os leitores arrumam um jeito de adquirir, seja pela net, seja em eventos.

Quais são as dificuldades na distribuição?
Autor independente é difícil entrar nas grandes redes, mas sempre dá para colocar em lojas especializadas e em lojas virtuais. Problema maior nem acho a distribuição, mas o trabalho de divulgação. Se o seu quadrinho está bem comentado, os leitores arrumam um jeito de adquirir, seja pela net, seja em eventos. O leitor quando entra em uma livraria, quase sempre já sabe o que quer. É um lugar que se "compra livro" e não que se "vende livros". A venda já foi feita em uma entrevista, em uma resenha, na indicação de quem já leu... nem acho isso bom, gostaria que tivessem mais leitores que chegam no livreiro (que hoje estão mais para balconistas) e perguntasse "ei, cara, me indica aí um autor bacana que eu ainda não conheço".



O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
Não me vejo "não fazendo quadrinhos". Faço isso desde sempre, quando era criança já fazia fanzines para os colegas de sala lerem de mão em mão... Acho que nem sei o que é "não fazer quadrinhos".

Tem gente que passa a vida tentando chegar no desenho ideal para produzir sua primeira HQ, mas não levam em conta que quadrinhos não é só desenho.

O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Produzir. Produzir de forma constante, manter uma rotina. Tem gente que passa a vida tentando chegar no desenho ideal para produzir sua primeira HQ, mas não levam em conta que quadrinhos não é só desenho. Faça histórias curtas, que possibilite experimentar narrativas, encontrar seu estilo. Histórias curtas são excelentes pois possibilita em um curto espaço de tempo já usar o que aprendeu na história anterior na nova HQ. Tem gente que quer estrear com uma graphic novel de 200 páginas. Tem que ter um trabalho muito maduro para algo desse porte. Se está em desenvolvimento, invista nas histórias curtas. E, claro, se conseguir fazer aula para aperfeiçoar a parte técnica, muito bom também. E produzir. Não pare de produzir.


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