Desde sexta (29), vários tweets surgiram com a hashtag #BlackWomenDidThat (Mulheres negras fizeram isso), em que pessoas trouxeram histórias inspiradoras de mulheres negras brilhantes e suas realizações. Certa vez, ouvi que devíamos estudar dos negros muito mais do que a escravidão e a África; talvez este seja um começo.
Nesta onda, foi publicado um tweet sobre uma quadrinista, Jackie Ormes, a primeira afro-americana a se tornar uma quadrinista profissional em um jornal (o print da publicação, inclusive, está no nosso Face). Vou ser sincera, nunca tinha ouvido falar dela. Isso, tendo lido a história dos quadrinhos. Mas fiquei interessada e resolvi pesquisar.
Jackie Ormes. First Black Woman Cartoonist. Creator of Torchy Brown and Patty-Jo 'n' Ginger. #BlackWomenDidThat pic.twitter.com/zMNCQ5VmG4— Chelsea: Dora Milaje (@IfIWereMagneto) 29 de julho de 2016
Quem era Jackie Ormes?
Zelda Mavin Jackson, e posteriormente Jackie Ormes (depois de casada), nasceu em 1º de agosto de 1911 em Pittsburgh, Pennsylvania. Após se formar, em 1930, na Monogahela High School, iniciou sua carreira no jornalismo, trabalhando como repórter freelance e revisora em um jornal afro-americano semanal, o Pittsburgh Courier. Foi ali que publicou, em 1937, sua primeira tira de quadrinhos, Torchy Brown in Dixie Harlem, na qual uma adolescente do Mississippi parte para o norte em busca de fama e fortuna, o que alcança dançando e cantando no Cotton Club. Foi a primeira personagem negra independente e representava as dificuldades enfrentadas por aqueles que saíam do Sul em direção ao Norte em busca de novas oportunidades.
Sua tiras foram publicadas em jornais destinados ao público negro (outros 14), pois sabia que uma mulher e, ainda mais, negra nunca sobreviveria aos jornais para brancos - somente três homens afro-americanos conseguiram o feito, segundo Trina Robbins, historiadora das comics femininas. Assim, tornou-se a primeira mulher negra a produzir quadrinhos.
Em 1942, mudou-se para Chicago, onde começou a escrever artigos e, brevemente, uma coluna social em um dos principais jornais do país, o Chicago Defender. Além disso, começou a estudar artes na School of the Art Institute of Chicago. Três anos depois, lança, em tiras de quadro único (painel), sua segunda personagem, a Candy, uma empregada doméstica que adora fazer observações sobre seus patrões e a sociedade.
No mesmo ano, lança outra tira de quadro único, a Patty-Jo 'n' Ginger, na qual Ginger, uma mulher jovem e elegante, quase enlouquece com as travessuras da sua irmã mais nova, a Patty-Jo, uma menina super perspicaz que costumava fazer comentários sobre assuntos polêmicos. A pequena fez tanto sucesso com as crianças que, entre 1947 e 1949, foi distribuída uma boneca da personagem. Segundo Nancy Goldstein, que escreveu a biografia de Jackie, a boneca foi um marco na história do negro nos Estados Unidos, tornando-se uma referência para essas crianças e suas famílias.
Em 1950, reinventa sua primeira personagem, a Torchy, em uma história de quadrinhos colorida chamada Torchy in Heartbeats. Ao invés da jovem inocente das primeiras tiras, agora a moça é uma enfermeira e mantém um relacionamento romântico com o médico Paul Hammond. Os dois moram numa cidadezinha chamada Southville, onde viviam seu romance e lutavam contra o racismo e a poluição ambiental (principalmente no último capítulo em 1954).
Em 1956, com o fim da Patty-Jo 'n' Ginger, Ormes se aposenta dos quadrinhos e decide se voltar à coordenação de shows fashion e ao ativismo pelos direitos civis trabalhistas - o FBI, inclusive, tinha um arquivo enorme dela devido a sua participação em eventos do Partido Comunista. Segundo eles, ela teria laços com o Partido, o que não era verdade. Alguns anos depois, começou a sofrer de artrite reumatoide, o que acabou atrapalhando sua habilidade de desenhar. Em 26 de dezembro de 1985, com 74 anos, veio a falecer devido a uma hemorragia cerebral.
Curiosidades
- Produziu desfiles para arrecadação de fundos para auxiliar o distrito sul de Chicago;
- Foi do quadro de diretores fundadores do DuSable Museum Of African American History;
- Tinha uma incrível coleção de 140 bonecas, antigas e modernas;
- Era membro ativo do Guys and Gals Funtastique Doll Club, uma sede de fanáticos por bonecas da United Federation of Dolls Club em Chicago.
- Teve sua biografia publicada em 2008 por Nancy Goldstein, sob o nome de Jackie Ormes: The First African American Woman Cartoonist.
- Em 2014, foi postumamente introduzida ao National Association of Black Journalists Hall of Fame, o Hall da Fama dos jornalistas negros.
0 comentários:
Postar um comentário