Um clássico escrito pelo mago barbudão Alan Moore e desenhado pelos traços soturnos de Brian Bolland. Foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos pela DC Comics em 1988. E agora a Warner/DC Animated nos apresenta uma animação dirigida por Sam Liu.
A HQ: A história começa com Batman, após refletir em sua relação de justiceiro com o Coringa, indo até Arkham ter uma conversa com seu velho inimigo. Mas quando começa a interrogá-lo, ele logo percebe que está diante de uma grande farsa. O Coringa havia fugido novamente. O palhaço insano pretende mostrar ao mundo, o que um dia ruim é capaz de fazer com o homem são.
O plano insano do Coringa começa com uma visita a casa de um dos homens mais influentes de Gotham, o comissário Gordon. A visita inclui Bárbara Gordon (Batgirl e futura a Oráculo) paralítica e, possivelmente, molestada sexualmente e o sequestro do próprio comissário. É certo que o Coringa está ali para compartilhar e tira fotos dos seus atos para posteridade. Quem é o homem são que irá a loucura? Pois em meio a tudo isso temos um Batman, no limite, tentando mostrar ao Coringa que nem todas as pessoas são como ele. Tendo um pouco de fé na decência das pessoas. A história do Coringa, contada em flashbacks, mostra-nos um comediante mal sucedido, na beira do abismo da sanidade. É uma revista traçando fronteiras entre salubridade e loucura. Sobriedade e caos.
A ANIMAÇÃO: Uma das animações mais aguardadas depois de “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2012), finalmente ganhou sua representação, porém não foi bem como o esperado... A história começa colocando a Batgirl como protagonista e percebemos que o morcego como um coadjuvante. Só isso era para ser o ponto positivo e mais interessante da trama. Há uma longa introdução para preparar o terreno para as vias de fato. Podemos acompanhar ela no começo de seu treinamento e numa relação conflituosa com Batman. Ao mesmo tempo ela revela, ao amigo homossexual, que está atraída por seu instrutor ioga (quem disse Batman acertou). A garota morcego arruma um inimigo-sociopata-stalker a altura de um Coringa (ao menos é o que o filme tenta sugerir). Paris Franz, o todo-bom-vou-te-pegar-Batgirl é um vilão mediano que está ali para reforçar estereótipos e a tratar a heroína como sexo frágil. E Batman não muito diferente ali para ser o macho alfa. Cabe a Barbara ser uma “adolescente” (não se tem certeza da idade dela) impaciente e inconsequente que espera a aprovação de Bruce ou o desafia com imprudência ao buscar atenção. Após uma discussão sem precedentes com Batman, ela o beija, e nesse momento, temos a cena mais descabida do filme: sexo entre os heróis. Não pelo sexo. Mas por ela que, possivelmente, teria a idade do Robin. E depois, temos uma Barbara insegura e dependente de Bruce. Esperando ele ligar. Esperando o aval dele para suas ações, não como um mentor, mas como o “amante”. Usando uma equivocada e pseudo representatividade feminina, Barbara se torna uma bomba relógio, descontando em todos a sua volta. E quando ela pega o bandido e o esmurra mostrando todo seu power-over-girl, ela percebe que nada daquilo faz sentido e desiste de ser a Batgirl. Porque sem o Batman, nada mais faz sentido ao combater o crime. Nessa altura do filme já não dá mais para morrer de rir com a piada.
Começa a segunda parte do desenho, a Piada Mortal propriamente dita, que faz parecer que um novo filme começou. Batman descobrindo que o Coringa fugiu. O Gordon é sequestrado. Barbara paralítica sofrendo os abusos e torturas do Coringa. E Batman semi-psicótico procurando o palhaço criminoso por todos os lados até encontra-lo. Há discussões sobre loucura e sanidade. Por que Bruce veio a se tornar o Batman? O que molda um herói ou um vilão? Como alguém se torna o que é? Mas Batman mostra que talvez só ele, o Coringa, não consiga aguentar um único dia ruim na vida e sucumba a loucura. No mundo atual, será que realmente é assim?
MINHA OPINIÃO: A animação era uma das mais aguardadas pelos grandes fãs de Batman. A criação de uma introdução focada na Batgirl é tão desnecessária quanto um dia se pensou, necessária. E um dos grandes motivos é a falta de coerência na ligação com a segunda parte da animação. As “duas” partes parecem ser tão distintas e só confundem. Algo como: mas por que isso está aí? A representação da heroína é um ponto extremamente complicado. Todo o estereótipo machista sobre uma mulher está lá. Até a própria ideia que um machista tem sobre o que “deve” ser uma mulher forte. Isso me lembra um filme sobre uma mulher numa sociedade em que os homens pensam sobre elas “Histeria” (2011). Que por mais que o foco desse filme seja outro, Barbara Gordon poderia ser classificada como histérica também.
idk how to feel about this pic.twitter.com/gsBGHsYet5— ☕ (@AcroNite7) 22 de julho de 2016
A cena de sexo no filme poderia ter sido algo até banal, mas temos a questão da idade da Batgirl. E toda tensão sexual que permeava a relação mentor/discípula culminando na criação de uma personagem inconsistente. Na verdade, até o desenho entrar na HQ, todos os personagens são muito desequilibrados e se apagarmos a introdução do filme, ela não nos fará a menor falta.
A animação tem aquele traço clássico dos desenhos da Warner, desde “Batman: a Série Animada” (2002). Ao longo dos anos esses traços ganham variações. Porém a grande expectativa é que a arte, dessa vez, fizesse jus aos traços de Brian Bolland. Não rolou. Ficou visualmente meio monótono. Mas um fã na internet acabou nos suprindo dessa necessidade:
Um ponto forte são as vozes de Mark Hamill como o Coringa e de Kevin Conroy como Batman deram uma atmosfera bem interessante aos personagens. A citação do Coringa sobre o que nos separa de sermos loucos ou “normais” é, para mim, um dos pontos mais relevantes da história. Realmente acredito que um dia ruim pode transformar uma pessoa de boa para completamente doida. Essas pessoas que vemos todos os dias ou estampadas em jornais e revistas. Que cometem crime ou sendo boas. Será que essas pessoas, realmente não perderam algum tipo de sanidade por algo ruim ou bom que lhes aconteceu em um único dia?
O filme assim como a HQ nos deixa com esse pensamento na cabeça. E o final, por ter sido tão enigmático quanto o da revista, a cena marcada por uma piada nos faz rir por um minuto e nos questionar no outro. O que rir disso tudo nos torna? A mente de um louco viaja de tal forma que em partes do filme, é possível entender e se sentir como um louco. E como a linha entre a sanidade e a loucura caminham lado a lado. Flertam entre si. E com quem nos identificamos nessa obra tão controversa? Será que seriamos herói ou vilão? Tente não rir dessa piada.
0 comentários:
Postar um comentário