A nova geração de quadrinhistas brasileiros se mostra também um das mais versáteis. Entre os estilos mais trabalhados está o mangá. Jun...

08:59:00 by marcelo engster

A nova geração de quadrinhistas brasileiros se mostra também um das mais versáteis. Entre os estilos mais trabalhados está o mangá. Jun Sugiyama é um dos autores que vem se destacando nessa estética. “Sou muito fãs de mangás e vim de uma família japonesa, mas que não tem muito contato com as tradições. Uma das coisas que gosto de abordar é exatamente essa visão da cultura japonesa, de um ponto de vista de alguém de fora, mas que vive marginalmente no universo oriental.” comenta o roteirista. Conversamos com Jun sobre sua obra e seus processos criativos. Confere:

Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Em 2012, fiz um curso de roteiro para quadrinhos com o André Diniz, na Quanta. A partir daí, participei do Gibi Quântico, uma coletânea com trabalhos de roteiristas daquela turma, editada pelo Raphael Fernandes, hoje o editor de quadrinhos da Draco. E continuei escrevendo, até agora.

Para escrever o roteiro, já tenho um padrão melhor definido. Costumo escrever a sinopse, os detalhes dos personagens, em cadernos, normalmente em cafés ou restaurantes. Depois, passo para o computador e, finalmente, escrevo os quadros.

Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Na hora de pensar nas histórias, ter ideias, não sigo uma rotina específica. Muitas coisas surgem durante caminhadas, no metrô e outras coisas rotineiras.
Para escrever o roteiro, já tenho um padrão melhor definido. Costumo escrever a sinopse, os detalhes dos personagens, em cadernos, normalmente em cafés ou restaurantes. Depois, passo para o computador e, finalmente, escrevo os quadros.
Nesta última fase, tento seguir algumas metas, como escrever cinco páginas por dia, ou passar 5 horas trabalhando o roteiro, dependendo de como estiver de prazo ou tempo livre.



Quais temas gosta de abordar?
Sou muito fãs de mangás e vim de uma família japonesa, mas que não tem muito contato com as tradições. Uma das coisas que gosto de abordar é exatamente essa visão da cultura japonesa, de um ponto de vista de alguém de fora, mas que vive marginalmente no universo oriental. Assim como outros temas abordados em mangás, como a mistura da fantasia com nossa realidade, a morte, urbanismo, temas que fazem parte da minha vida.

Quais suas principais referências? O que te inspira?
Como disse antes, fui muito influenciado por mangás e animês. Títulos da Shonen Jump, como One Piece, Naruto, Yu Yu Hakusho, ou grandes animações como Nausicaä, Patlabor, Utena, Cowboy Bebop. Listar todos os títulos que aprecio e me inspiram seria bem trabalhoso.
Fora do Japão, gosto de Sandman e muitos filmes americanos, um dos meus diretores favoritos sendo Wes Anderson.



Você faz alguma pesquisa para suas histórias?
Sim. A quantidade de pesquisa depende do projeto. Quando encontro um tema que gosto, sempre faço uma pesquisa superficial primeiro. Alguns exigem que vá mais a fundo, para que o tema não fique apenas na superfície. Tento ver filmes ou ler livros que trabalham o assunto, para buscar referências e/ou evitar coisas muito parecidas.
Na hora de escrever o roteiro, faço pesquisas para conseguir imagens de referência, para passar de maneira mais clara para o artista.

O que faz quando tem o famoso branco?
Saio para caminhar. Penso em outras coisas, outros projetos. Tem horas que não adianta forçar.

Qual a importância das personagens para as histórias? Qual seu trabalho de desenvolvimento de personagens?
Depende da história. Existem algumas que são movidas pelos personagens, outras que são movidas pelo enredo. Na maioria do meu trabalho, os personagens refletem o enredo e o ambiente, não o contrário. Então, na hora de criar um personagem e desenvolvê-lo, busco encontrar o melhor jeito de fazê-los se encaixar com o tema, combinem com o que está acontecendo na história e a jornada deve refletir o projeto como um todo.
Se for analisar o estilo dos mangás shonen, o que faço é o oposto. Mas acho que sigo mais o estilo de mangás mais adultos. Não tenho certeza.


Quais são os cuidados que um roteirista precisa ter na hora de pensar a diagramação de uma página? Existe diferença entre o que vai em uma página ímpar e uma par?
Depende muito do formato final, mas para impressos há diferenças, sim. Uma das coisas que não é tanta responsabilidade do roteirista (mas que precisamos prestar atenção) é a zona de segurança. Uma parte da página pode acabar coberta na impressão por ficar próxima ao centro das duas páginas, então não podemos deixar falas ou partes importantes da narrativa nessa área. Como é onde as duas páginas se juntam, o espaço é invertido entre ímpar e par.
A diferença mais importante entre as duas é a virada de página. O fim da página ímpar deve ter algo que faça o leitor virar, um mini suspense, que dê o gostinho de querer saber o que vai acontecer. Ao mesmo tempo, as páginas pares guardam a maior parte das revelações, para surpreender o leitor que vira a página.

Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Isso é o que estou tentando descobrir até agora!
Os meios mais comuns é interagir pelas redes sociais e em eventos. É um diálogo. Então é necessário manter o canal aberto.



Como é a relação entre o roteirista e o desenhista?
É uma parceria complicada. Tem que respeitar a liberdade artística do outro, mas também apontar coisas que precisam ser alteradas. Cada um tem suas próprias ideias e visão para o projeto, então é necessário conversar para alinhar as duas. No final, ambos querem que o projeto seja bom, então muitas diferenças  podem ser resolvidas com essa base.

Você consegue viver de quadrinhos?
Não… Quando consigo pagar a mesa de um evento, fico feliz.

Existe diferenças de mercado de trabalho para roteiristas e desenhistas?
Nem sei se há um mercado de roteiristas no Brasil… Se falarmos de quadrinhos apenas, temos uma desvantagem, pois desenhistas são necessários em praticamente qualquer projeto, enquanto o roteiro pode ser feito pelo próprio artista e o resultado será uma HQ fenomenal.

Posso repetir o que todos dizem: cultura no Brasil é difícil, complexo de vira-latas, brasileiro gosta de coisas importadas

Quais as dificuldades do mercado brasileiro?
Difícil dizer. Posso repetir o que todos dizem: cultura no Brasil é difícil, complexo de vira-latas, brasileiro gosta de coisas importadas etc. Mas não tenho vivência na área o suficiente para cravar nenhuma dessas. Só sei que é difícil, mas continuo tentando.

Espero contar histórias que outros possam se divertir, refletir lendo, do mesmo modo que outras HQs, filmes, séries, livros fizeram o mesmo comigo.

O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
Gosto de histórias e esse é um jeito que acredito estar melhorando. Espero contar histórias que outros possam se divertir, refletir lendo, do mesmo modo que outras HQs, filmes, séries, livros fizeram o mesmo comigo. 

Eu acho que são nesses momentos que nascem as artes. No conflito, nas experiências diferentes.

O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Abra um pouco a mente. Busque ler, ouvir, assistir a coisas que não está acostumado. Não precisa ser o especialista em tudo, mas só o pequeno esforço de encontrar coisas novas o fará a enxergar as coisas de outra maneira. Eu acho que são nesses momentos que nascem as artes. No conflito, nas experiências diferentes.
E, no final, o que fazemos é arte. Mas que também pode divertir, entreter.


0 comentários:

Postar um comentário