Em um mercado cheio de dificuldades e praticamente sem grandes editoras investindo em material nacional, os quadrinistas precisam se desdobrar para conseguirem lançar seus trabalhos. Daniel Esteves acabou virando editor de seus quadrinhos e abrindo a própria editora. “Tenho que pensar não só nas tramas, personagens e na forma do roteiro, como também nas tantas questões editoriais”, comenta o roteirista sobre a árdua tarefa. Ele, que começou a produzir ainda no colegial, com amigos, hoje tem seu próprio selo de quadrinhos, a Zapata Edições, e uma escola, a HQ em FOCO. Conversamos com Daniel sobre seus processos criativos, o mercado brasileiro e o ofício do roteirista de quadrinhos no país “Desenhistas tem uma ampla gama de opções para trabalhos próximos aos quadrinhos, em Ilustração, assim conseguem se manter mais próximos, mesmo quando falta dinheiro nas HQs. Os roteiristas até conseguem alguns ofícios dentro do mercado editorial, mas nada que o desenvolva de fato como roteirista.”
Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
A vontade esteve presente desde o início da adolescência. Fiz colegial técnico de Desenho de Comunicação e lá tive a oportunidade de conhecer outras pessoas que queriam produzir. Começamos algo ainda bem tímido, amador, mas a partir disso fomos cavando espaço na própria escola e depois de formados começamos a dar um curso livre de quadrinhos para os alunos que ainda estavam cursando. Em paralelo fui encontrando pequenos espaços para publicar, como a revista Quadreca da ECA/USP (na época estava cursando História). Além disso já comecei a produzir HQs independentes com os parceiros de trabalho no já referido curso. O tempo passou, isso foi no começo dos anos 2000, fiz parte de muitas iniciativas, como a FRONT, Quarto Mundo e o trabalho foi avançando. Hoje o tal curso é a minha escola: HQ em FOCO, que se desdobrou também no meu selo de HQs Independentes: Zapata Edições.
Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Meu processo criativo é até ordenado, porém não trabalho com uma rotina fechada, muitas vezes funcionando mais em momentos de pressão do que pensando a longo prazo (ok, sei que estou errado, mas não vou mentir aqui, né?). Sobre o processo em si, desde a primeira ideia eu já estou pensando em como vou publicar. É uma história curta para alguma coletânea que me chamaram? Então vou trabalhar em cima dos parâmetros que me passaram. O mesmo se for uma HQ que uma editora está me encomendando. Já nos casos de publicações do meu próprio selo, vou imaginando como viabilizar aquilo, se será um catarse, se vou apresentar nalgum edital, ou se vou viabilizar diretamente. Em paralelo a isso já estou pensando e convidando os parceiros. Uma vez com isso definido aí sim eu desenvolvo a história para além das primeiras ideias e rascunhos. Criar personagens, mundos, desenvolver o drama da história. Com a história criada passo para o roteiro final, para a definição de quantas páginas a história vai ter, como vou distribuí-la por essas páginas e a forma como vou entregar isso tudo ao desenhista.
Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
A vontade esteve presente desde o início da adolescência. Fiz colegial técnico de Desenho de Comunicação e lá tive a oportunidade de conhecer outras pessoas que queriam produzir. Começamos algo ainda bem tímido, amador, mas a partir disso fomos cavando espaço na própria escola e depois de formados começamos a dar um curso livre de quadrinhos para os alunos que ainda estavam cursando. Em paralelo fui encontrando pequenos espaços para publicar, como a revista Quadreca da ECA/USP (na época estava cursando História). Além disso já comecei a produzir HQs independentes com os parceiros de trabalho no já referido curso. O tempo passou, isso foi no começo dos anos 2000, fiz parte de muitas iniciativas, como a FRONT, Quarto Mundo e o trabalho foi avançando. Hoje o tal curso é a minha escola: HQ em FOCO, que se desdobrou também no meu selo de HQs Independentes: Zapata Edições.
Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Meu processo criativo é até ordenado, porém não trabalho com uma rotina fechada, muitas vezes funcionando mais em momentos de pressão do que pensando a longo prazo (ok, sei que estou errado, mas não vou mentir aqui, né?). Sobre o processo em si, desde a primeira ideia eu já estou pensando em como vou publicar. É uma história curta para alguma coletânea que me chamaram? Então vou trabalhar em cima dos parâmetros que me passaram. O mesmo se for uma HQ que uma editora está me encomendando. Já nos casos de publicações do meu próprio selo, vou imaginando como viabilizar aquilo, se será um catarse, se vou apresentar nalgum edital, ou se vou viabilizar diretamente. Em paralelo a isso já estou pensando e convidando os parceiros. Uma vez com isso definido aí sim eu desenvolvo a história para além das primeiras ideias e rascunhos. Criar personagens, mundos, desenvolver o drama da história. Com a história criada passo para o roteiro final, para a definição de quantas páginas a história vai ter, como vou distribuí-la por essas páginas e a forma como vou entregar isso tudo ao desenhista.
Quais temas gosta de abordar?
Tudo depende da época, do momento, mas minhas histórias talvez tenham em comum elementos de críticas políticas e sociais. O tema pode variar, a forma também, seja numa ótica mais leve ou numa versão mais pesada, mas certas questões acabam aparecendo com certa frequência. Uma forma de alertar sobre opressões, ou de tentar dar voz ao oprimido. Por exemplo, a questão da terra, está presente em Por mais um dia com Zapata, A luta contra Canudos, São Paulo dos Mortos vol. 01 e em Bichos.
Lógico que grandes autores e histórias fizeram minha cabeça, me levaram a desenvolver um estilo, mas na maior parte da minha produção eu percebo uma influência muito maior de fora do universo das narrativas, vinda do mundo real, seja da minha vida, ou de fatos que me levam a querer contar uma história.
Quais suas principais referências? O que te inspira?
Alguns autores fizeram parte da minha formação como roteirista, incentivaram muito a querer escrever, mas não são eles o motivo que me leva a escrever, apesar de ser muito tentador começar a escrever depois de ler ou assistir uma narrativa fantástica. A depender da história, por exemplo, em Nanquim Descartável, o mais importante e inspirador era o convívio com os amigos e certos processos emocionais que eu estava vivendo naquele momento. Em KM BLUES, por mais que a história não tenha sido motivada por isso, após criados os personagens e o esboço todo da trama, o que mais me inspirou foi a presença do Cartola dentro da narrativa e a relação que eu ia obtendo das músicas dele com o que eu queria contar. Em Por mais um dia com Zapata eu me inspirava muito com os Corridos, música popular tradicional mexicana, que falavam sobre o tema e com depoimentos de sobreviventes da época da revolução, em vídeo, áudio, ou texto. O caso do Pinheirinho em São José dos Campos, uma comunidade expulsa pelo prefeito com apoio do Governador, para beneficiar empresários ricos e corruptos, foi uma grande base de inspiração para a existência de São Paulo dos Mortos. As censuras a arte por parte do MBL foram um mote que me inspirou a produzir uma das histórias de Bichos, meu último quadrinho. Lógico que grandes autores e histórias fizeram minha cabeça, me levaram a desenvolver um estilo, mas na maior parte da minha produção eu percebo uma influência muito maior de fora do universo das narrativas, vinda do mundo real, seja da minha vida, ou de fatos que me levam a querer contar uma história.
Você faz alguma pesquisa para suas histórias?
Bastante! Pesquisas podem ter muitas naturezas. Por exemplo, nas HQs históricas que fiz: A luta contra Canudos, Herança Africana no Brasil e sobretudo em Por mais um dia com Zapata, a tal pesquisa fica mais reconhecível, pois vou a documentos, livros, filmes, etc, para aprender o maior número de informações possíveis sobre aquele mundo e compor uma ambientação e reconstrução de fatos o mais fiéis possíveis. Já quando fui produzir São Paulo dos Mortos, assisti e li uma porrada de coisas com a temática de zumbis, para entrar no clima e reconhecer certos elementos comuns a essas narrativas. E isso vale para outras tantas histórias. A pesquisa pode ser tanto parte da criação do background da história, quanto pode ser uma forma de destravar alguma bloqueio, ou encontrar novos elementos para uma cena.
Uma hora a gente tem que encarar o branco e colocar as coisas pra frente, mas tem momentos que nem toda a disciplina do mundo resolve e o jeito mesmo é fugir até reencontrar algum resquício de inspiração que possa resolver aquele problema.
O que faz quando tem o famoso branco?
Procrastino, vou lavar louça, passear com o cachorro, conversar com os amigos online, uma porrada de coisa para fugir da história, seja de forma consciente ou inconsciente. Uma hora a gente tem que encarar o branco e colocar as coisas pra frente, mas tem momentos que nem toda a disciplina do mundo resolve e o jeito mesmo é fugir até reencontrar algum resquício de inspiração que possa resolver aquele problema.
Qual a importância das personagens para as histórias? Qual seu trabalho de desenvolvimento de personagens?
Novamente depende da história. Nalgumas histórias os personagens servem apenas de alegoria e ferramenta para se contar um fato, ideia ou tema que eu pretendia abordar. Noutras vezes eu preciso muito de um personagem para aí sim conseguir desenvolver minha história. Obviamente no segundo caso a criação do personagem é mais elaborada e tento pensá-lo em muitas dimensões, para ele não ser apenas um fantoche na minha mão, mas sim ter vontade própria. Alguns personagens são diretamente baseados nalgum amigo, colega ou conhecido. Outros se desenvolvem como uma soma de características de várias pessoas que conheço. Outros até podem ser amplamente retratados com características minhas. Alguns até tentam retratar um extrato ou classe, e para isso é inevitável cair nalgumas generalizações, mas sempre tomando cuidado para não chegar a um estereótipo que seja de alguma forma ofensivo, ou que ressalte preconceitos.
Penso minhas histórias a partir de páginas. A unidade essencial pra mim é essa.
Qual a importância do quadro em uma história em quadrinhos?
Penso minhas histórias a partir de páginas. A unidade essencial pra mim é essa. Pra isso tenho que entender o que cabe em cada página, ou seja, quantos quadros a página vai ter. Mas a essência pra mim são as páginas. Uma vez definido isso eu vou a descrição de cada quadro para enviar ao desenhista, mas nalgumas vezes prefiro descrever a página como um todo, dando mais liberdade ao artista. Mesmo sendo esse o caso, prefiro ver os esboços de cada página, ou seja, com todos os quadros já dispostos de acordo com a proposta de diagramação, para em cima disso definir se está tudo de acordo com as intenções da história e o ritmo da história.
Por mais um dia com Zapata poderia ter 500 páginas, mas tem 140. Pois não tenho condições de lançar um livro gigante, seja por custo, tempo de produção, ou pela agenda dos parceiros desenhistas.
Existe diferença entre o que vai em uma página ímpar e uma par?
Seguindo a resposta anterior, pra mim o segredo todo tá na condução da história em páginas. Depois de criar a história, ou ainda durante o processo de criação (depende de caso a caso), vou dividindo em páginas, pensando quantas e como vou distribuir minha história por elas. Nisso vem uma série de coisas, como essa diferença entre página ímpar e par, para controlar o fluxo da narrativa para o leitor. Além disso, tento sempre ser econômico. Uma brincadeira recorrente, é que estamos no Brasil e não no Japão. Por isso tento não extrapolar na narrativa lenta, pois pelo tanto que podemos publicar por ano prefiro condensar um pouco mais a história. Por mais um dia com Zapata poderia ter 500 páginas, mas tem 140. Pois não tenho condições de lançar um livro gigante, seja por custo, tempo de produção, ou pela agenda dos parceiros desenhistas.
Tento ser o mais sincero possível naquilo que produzo, não faço apenas pensando em venda, mas primo pelas mensagens que me são importantes, ou que fazem com que eu me divirta produzindo.
Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Difícil responder a isso. Tento ser o mais sincero possível naquilo que produzo, não faço apenas pensando em venda, mas primo pelas mensagens que me são importantes, ou que fazem com que eu me divirta produzindo. Lançando suas publicações e correndo muito atrás você começa a sentir uma resposta do público. Mesmo que não venda horrores, você leva sua mensagem até as pessoas e percebe que ela produz algum impacto em quem lê.
Como é a relação entre o roteirista e o desenhista?
Se você não puder sentar para beber uma cerveja (ou um café) com seu parceiro, tudo se complica. Lógico que dá pra produzir uma história sem conhecer o desenhista, mas uma das partes mais divertidas é exatamente essa interação, receber esboços do desenhista e discutir com ele as soluções encontradas, pensando em melhorar o fluxo da narrativa. A maioria dos desenhistas com quem trabalhei são grandes amigos. Ou eram antes do processo, ou se tornaram depois. O meu trabalho não acaba quando envio o roteiro para o artista. Temos muito a conversar, por isso é melhor uma relação de amizade.
Você consegue viver de quadrinhos?
Ainda não morri de quadrinhos, então acho que a resposta a isso é SIM! Lógico que não é fácil, não faço apenas o que quero, mas meu sustento gira entre aulas, minha produção e a produção de material encomendado, as vezes pendendo mais para um, as vezes para outro.
Você também edita muitas de suas publicações. Qual o papel de um editor de quadrinhos em uma obra?
No meu caso os papéis de AUTOR e EDITOR se confundem um pouco. Sei que são dois ofícios diferentes e que preciso ficar atento. Tenho que pensar não só nas tramas, personagens e na forma do roteiro, como também nas tantas questões editoriais. De partida tenho que definir a forma do produto, se será um livro, uma revista, quantas páginas, formato, etc. Depois como vou viabilizar, quais os prazos, quando quero lançar, como vou conseguir o dinheiro para isso, orçamentos de gráficas e todo esse contato com prestadores de serviços. Em paralelo pensar no parceiro que será convidado, ou até se serão vários desenhistas, expediente bem comum para poder dar conta de prazos e disponibilidade dos artistas. Uma vez que as artes vão chegando, vou olhar não só como o criador da história, mas também como editor, para ver se não tem nada que possa fugir das características da obra que estou produzindo. Arrumar um revisor, pois não dá para revisar o próprio texto. Pensar no projeto gráfico, mesmo que tenha um designer, coloco as ideias e o que imagino para a publicação. Uma vez com tudo pronto, o fechamento do arquivo e o acompanhamento com a gráfica. Em paralelo a divulgação, lançamentos, distribuição, vendas, etc, etc, etc. Enfim, não é “só” escrever a história. Tem uma porrada de afazer dentro desse processo. Gostaria de ser um editor minimamente competente, como sei que sou como roteirista.
Existe diferenças de mercado de trabalho para roteiristas e desenhistas?
Com certeza. Desenhistas tem uma ampla gama de opções para trabalhos próximos aos quadrinhos, em Ilustração, assim conseguem se manter mais próximos, mesmo quando falta dinheiro nas HQs. Os roteiristas até conseguem alguns ofícios dentro do mercado editorial, mas nada que o desenvolva de fato como roteirista. Fato que durante tanto tempo tínhamos poucos autores só roteiristas, agora vem aumentando nesse momento de crescimento dos quadrinhos. Lógico que é mais prático para desenhistas escreverem seus próprios roteiros, limitando ainda mais as opções dos roteiristas. Mas não falo isso com lamento, pois temos grandes roteiristas atualmente e é um universo que vem crescendo. Roteiristas que não desenham precisam arregaçar as mangas, encontrar parceiros e produzir, pois ninguém vai ler apenas roteiros, diferente de um desenhista que pode provar seu talento mostrando um portfólio de ilustração.
Quais as dificuldades do mercado brasileiro?
Para não me estender muito em lamentos sem fim, nem criar uma impressão pra quem tá lendo de que não deveria fazer quadrinhos, vou falar pouco de alguns problemas, que não são exclusividade do universo dos quadrinhos. Distribuição é um primeiro calcanhar de Aquiles do mercado editorial. Se o livro não chega até as pessoas não vai vender tanto. Quando chegam, estão dentro de livrarias abarrotadas de produtos, escondidos entre um bocado de best-sellers, ou modismos descartáveis, num país que lê menos do que deveria. Em meio a isso tudo, pensando num microcosmo do universo de HQs independentes, acabamos nos abraçando muito a eventos, pequenas lojas e ao boca a boca de pequenos sites e alguns leitores fiéis.
O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
Poder tratar de alguns temas com liberdade, a parceria com artistas fantásticos e a necessidade de contar histórias.
Se minha geração provou que dava pra fazer, essa nova tem provado que dá pra fazer bem feito e com grande primor gráfico, temático e editorial.
Além de roteirista e editor, você dá aulas de HQs. Como você tem visto a nova geração de quadrinistas? O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Simplesmente não dá pra acompanhar o surgimento de tantos artistas ótimos nos quadrinhos brasileiros. Eles surgem num cenário que sei que ajudei a construir, junto a tantos outros artistas maravilhosos, com raciocínio e desejos muito maiores do que os da minha geração, quando começamos a produzir. Se minha geração provou que dava pra fazer, essa nova tem provado que dá pra fazer bem feito e com grande primor gráfico, temático e editorial. Pra quem está começando só posso dizer que seja bem vindo, que escute conselhos daqueles que estão aí a mais tempo (mesmo que seja pra depois ir lá e fazer tudo diferente), e, por fim: “Sente aí na mesa, e vamos planejar umas coisas para o futuro”. Lógico que ainda temos muitos problemas pra enfrentar, mas a gana, o tesão e a falta de limites dessa nova geração só me inspiram a produzir mais e mais.
0 comentários:
Postar um comentário