Confesso que este filme ficou um baita tempo na minha lista da Netflix. Mas, em uma noite, resolvi encará-lo e não me arrependo nem um p...

09:16:00 by Manuela Joana Engster

Confesso que este filme ficou um baita tempo na minha lista da Netflix. Mas, em uma noite, resolvi encará-lo e não me arrependo nem um pouco. Esse é um daqueles filmes que vão devagar, ao seu próprio ritmo, porém, não deixa de ser angustiante e misterioso - tirando que as atuações são maravilhosas.

Enredo (pode e terá spoilers)

Amelia (Essie Davis) cria sozinha seu filho Samuel (Noah Wiseman), já que seu marido faleceu em um acidente de carro enquanto a levava para dar a luz. Sua relação com o garoto não é muito boa, já que o luto pela morte do companheiro ainda não passou e Samuel apresenta problemas comportamentais: ele grita muito, tem medo de um monstro imaginário e vive criando armas para, segundo ele, proteger sua mãe. Na verdade, Amelia não consegue dormir bem por causa do garoto e isso a deixa irritada - no fim, o simples fato de Samuel existir a incomoda. Vale ressaltar as atuações de ambos: você acaba se compadecendo da mãe e entende seu contínuo mal-estar com a presença do menino; sério, você passa a ter raiva de Samuel.

Amelia e Samuel procurando o monstro debaixo da cama. Babadook (2014). Imagem de Gazeta do Povo

Tudo piora quando, certa noite, Samuel pede para que sua mãe leia um livro que ele encontrou na estante. O nome? Senhor Babadook. Um livro simples, de capa vermelha, com a forma escura do personagem principal da história. Não há editora, nem autor e Amelia não lembra de ter visto aquela peça alguma vez na vida. Mas, afinal, que mal pode um livro fazer? Vish, muito. O livro, que na verdade é um pop-up - daqueles que certas cenas pulam da folha - conta a história, obviamente, do Senhor Babadook, um ser assustador que surge do armário para aterrorizar uma criança na cama e, pior, não há como se livrar dele. A partir dali, Samuel piora, e muito, de comportamento, passando a acreditar que o Babadook é um monstro real que quer machucá-lo. A princípio, a mãe não acredita, mas coisas estranhas começam a acontecer na casa: portas abrindo sozinhas, vidro nas comidas, infiltrações enormes nas paredes, etc. Cada vez mais os dois vão se afastando das pessoas ao redor e acabam se isolando em casa.

Samuel abraça sua mãe enquanto o Babadook foge. Babadook (2014)

O Babadook, como mostrava no livro, queria o menino e faz de tudo para isso - até mesmo tomar a forma do falecido esposo de Amelia, fazendo-a acreditar que se entregasse o menino, os dois poderiam ficar juntos novamente. Aos poucos, ela vai incorporando o monstro em si e até tenta matar Samuel. Porém, o garoto a amarra e, com muito carinho e amor, consegue trazê-la de volta. Juntos, eles conseguem intimidar Babadook até que ele fique tão pequeno e assustado que se esconde no porão, lugar onde estão guardadas as coisas do falecido. O final é tão inesperado, que você fica pensando: o que raios aconteceu aqui? Na cena, Amelia leva minhocas para o frágil Babadook que agora mora em seu porão. Depois, ela vai para o pátio da casa comemorar o aniversário de Samuel. E fim. Sério, termina assim.

Considerações finais

Babadook é um terror psicológico que pode não agradar todo mundo - principalmente se você prefere uns jumpscares da vida -, mas é angustiante e não deixa você desprender os olhos da tela. Muitos críticos sugerem que o filme não fala sobre um monstro que quer criancinhas, mas sim sobre um monstro psicológico. Segundo eles, Babadook nunca existiu; foi uma expressão externa do sofrimento pelo qual Amelia passava: a dor do luto, da perda de alguém importante. Não é à toa que a imagem da criatura estava associada, a todo momento, ao porão da casa. Era ali que estavam guardados todos os objetos do falecido marido; era ali que sua memória continuava viva. Mas porque esse monstro irreal iria quer Samuel? Simples: como seu companheiro havia morrido enquanto dava luz ao menino, ela, bem no fundo, culpava Samuel e acreditava que, se ele nunca tivesse nascido, o amor de sua vida ainda estaria ali. Se pensar assim, a cena final faz muito mais sentido: com o carinho do menino, Amelia supera o luto - ou Babadook, se preferir -, que ainda existe, nunca irá embora, como afirmava no livro, mas agora é tão pequeno e impotente que não incomoda mais. Com isso, ela não culpa mais seu filho e sua relação melhora muito.

Ps.: a primeira imagem é retirada do site do artista que criou o livro do Babadook - Alexander Juhasz. Se quiser dar uma conferida, clica aqui (em inglês).

Dados técnicos

Diretora: Jennifer Kent
Roteirista: Jennifer Kent
Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman e Daniel Henshall
Data de estreia: 17 de janeiro de 2014 (Festival Sundance de Cinema)




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