O Rio Grande do Sul possui uma longa e frutífera tradição de chargistas e quadrinhistas que trabalham com o regionalismo. Augusto Bie...

13:00:00 by marcelo engster


O Rio Grande do Sul possui uma longa e frutífera tradição de chargistas e quadrinhistas que trabalham com o regionalismo. Augusto Bier é um dos mais importantes. Além de chargista político em jornais, é autor da tirinha regionalista “Alemão Blau”, que retrata os descendentes de imigrantes alemães do sul do país, dos quais faço parte.  Curioso com a temática adotada pelo artista, conversei com Bier.


Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Comecei a publicar quadrinhos - pouco - aos 17 anos. Sempre trabalhei mais como cartunista e chargista. O trabalho começou tarde, dez anos depois, em forma de tiras, num jornal para público rural de cooperativas gaúchas. Eu fazia o Alemão Blau, um colono teuto-gaúcho, publicado até hoje aqui e em Santa Catarina. Produção semanal.

O noticiário me abastece bastante, até com concorrência desleal dos políticos e quase nunca dá branco ou sofrimento.
Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
O processo criativo depende. Faço de uma a três charges diárias pra site e pros jornais do SindBancários. O noticiário me abastece bastante, até com concorrência desleal dos políticos e quase nunca dá branco ou sofrimento. Fazer os quadrinhos do Blau já pede mais esforço. Pra isso eu bebo nos estereótipos do alemão batata e na história. Há muita piada sobre cerveja, por exemplo, e sobre trabalho doméstico rural, mas também sobre religião e integração com os outros tipos do mosaico étnico do RS. Minha dissertação de mestrado foi sobre isso.


Quais temas gosta de abordar?
Temas pra charges, o que o noticiário me dá. Temas pros quadrinhos, já respondi na 2. Se bem que tudo é tema quando se tem cultura geral e capacidade pra fazer links insólitos e engraçados. Como já mencionei antes, a cultura alemã do Brasil e de fora é uma grande fonte. E o alemão do Brasil é muito engraçado.

Como é seu dia a dia de criador?
Fico na assessoria de imprensa das 11 às 17h15 normalmente. O que produzo é nesse espaço. Trabalho pouco em casa, embora o processo de criação funcione 24 horas por dia, inclusive durante o sono. Geralmente, criar leva mais tempo do que executar. No caso das tiras, sempre recorro às redes sociais para achar algum mote. O mais recente, aliás, é meu arquivo da biblioteca, que me dá boas ideias sobre a historia do teuto-gaúcho/Bier/Blau. Aí é homework.

O branco é uma merda sempre. Eu sofro. Mas não perco o movimento, vou atrás, porque é uma tarefa profissional e tem mais gente esperando pela minha parte.
 O que faz quando tem o famoso branco?
O branco é uma merda sempre. Eu sofro. Mas não perco o movimento, vou atrás, porque é uma tarefa profissional e tem mais gente esperando pela minha parte. Caminho pela casa, troco ideias, mexo em publicações que acho nas mesas de outros setores. Em último caso, me isolo numa sala por alguns minutos até parar de sair fumaça dos ouvidos. Essa parada, se houver tempo, funciona bem.
 
O quadro é um território criativo delimitado(...). Ele me permite decidir o enquadramento e enxuga a narrativa visual

Qual a importância do quadro em uma história em quadrinhos?
O quadro é um território criativo delimitado, o que acho muito confortável. Ele me permite decidir o enquadramento e enxuga a narrativa visual, no qual posso jogar minha fragmentação como quiser. Já uma folha em branco, sem edição, é um desafio maior. Também é um altar onde o desenhista pode exibir sua epifania.


Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Eu acho que as redes sociais são o caminho mais rápido e eficaz de se chegar ao público, mas é preciso observar direitos autorais e remuneração do artista, duas frentes bastante frágeis hoje em dia. Como nasci num mundo lento e analógico, tenho predileção pelo suporte papel, o velho e bom jornal, que é onde há maior controle sobre a publicação e a remuneração do quadrinista/chargista. Oficinas, feiras e atividades escolares envolvendo quadrinhos são fundamentais, porque alfabetizam o público pra essa linguagem. Eu defendo ao criação de disciplina de Desenho Editorial nas universidades para estudar o fenômeno sob diversas áreas do conhecimento, como história, psicologia, sociologia, semiologia etc. Mas não tenho tido sucesso, porque a academia ainda não leva o humor e a narrativa sequencial a sério.

Quais as dificuldades do mercado brasileiro?

As dificuldades são várias. Falei disso na questão anterior. Faltam editoras interessadas, falta gente pra ler, falta uma cultura que dê aos quadrinhos o status de literatura ou cinema, como vemos na Bélgica e na França. Na Bélgica existe até o MUSEU BELGA DE HQ.

O que te motiva a continuar fazendo quadrinhos?
A  publicação e o reconhecimento, o riso do leitor. Não me dá dinheiro, infelizmente.
 
O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
Ache outra fonte de renda e vá estudar, fazer oficinas, produzir até ficar em condições de levantar uma grana ou de ser contratado pela Marvel...


 

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