JQ NO BRASIL
Não é muito fácil descobrir as primeiras tentativas de jornalismo em quadrinhos em terras verde-amarela, afinal, mesmo que seja um tema recorrente nos TCCs de futuros jornalistas, não tem um histórico muito desenvolvido. Normalmente, ao referir-se ao nosso país, citam-se exemplos mais recentes e populares como a matéria "Crack: caso de polícia ou saúde pública?" (Carlos Carlos com arte de Alexandre de Maio) publicada na Revista Fórum. Porém, dei uma bela procurada e pude encontrar alguns registros bem interessantes.
HistóriaNhô-Quim de Angelo Agostini |
Segundo Dulcilia Schroeder Buitoni (Fotografia e jornalismo: a informação pela imagem / SP 2011), Angelo Agostini, um italiano radicado no Brasil foi um dos primeiros a ter realizado uma experiência em JQ em nosso país, criando quadrinhos em sequência com legendas e diálogos. Isso lá por 1864 com a Guerra do Paraguai - sua primeira história em quadrinhos, porém, só sairá em 1969 com Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte na qual a personagem, Nhô-Quim, um 'caipira' nascido em Minas Gerais vai para no Rio de Janeiro, onde o urbano começava a tomar o lugar do rural. Usando a ingenuidade do moço, Agostini criticava a Igreja, o Império, as condições precárias de saúde, a escravidão e a desigualdade social. Essa obra, inclusive, é considerada por muitos a primeira história em quadrinhos do mundo - outros acreditam que The Yellow Kid, de Richard Outcault, em 1895 seja o oficial. Já a história em quadrinhos considerada jornalística saiu em 1880 na falecida Revista Ilustrada, em que tratava da escravidão.
Mais adiante, em 1999, sairia a primeira matéria jornalística em quadrinhos, realizada pela repórter Patrícia Villalba e pelos quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada no O Estado de S. Paulo. Nela, era relatado o encontro de duas gerações de músicos: Tom Zé e Otto. A partir daí, o negócio foi ficando mais popular e conhecido, principalmente na internet. No impresso, o jornalismo em quadrinhos ainda cresce a passos lentos e tímidos - desde 2008, porém, a Revista Catorze, de Natal, possui uma editoria exclusiva sobre o gênero. Sobre isso, afirma Luiz Costa Pereira Júnior, jornalista e doutor em filosofia e educação:
Apesar de existir publicações em vários jornais do país, ainda é na internet que o jornalismo gráfico vem à tona. Podemos teorizar diversas razões para não ocorrer de forma contínua no meio impresso, como o próprio preconceito com a ferramenta, o espaço dado, o tempo gasto para a confecção de tal reportagem, entre outros.
Fim da Parte 2
* Vale também dar uma lida na monografia da jornalista Carla Moura, de onde tirei a maioria das informações.
Primeira imagem: trecho de Vanguarda: Histórias do Movimento Estudantil na Bahia, de Caio Coutinho, Fábio Franco e Leandro Silveira (Jornal A Tarde, 2007)
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