Marcelo D´Salete, foto de Chico de Assis A qualidade artística dos desenhos e roteiros não são os únicos trunfos da atual geração de qu...

09:25:00 by marcelo engster
Marcelo D´Salete, foto de Chico de Assis
A qualidade artística dos desenhos e roteiros não são os únicos trunfos da atual geração de quadrinhistas brasileiros. Vivemos em um momento onde a diversidade é um dos destaques das produções. Diversidade de formas, de temas, de representatividade.
O professor, pesquisador e quadrinhista Marcelo D´Salete vem se destacando com suas histórias que envolvem periferias de grandes cidades e resistência a escravidão no período colonial. Seus quadrinhos são frutos de muita pesquisa histórica.
Conversamos com D´Salete para entender melhor seu processo criativo.


Como você começou a trabalhar com quadrinhos?
Comecei a publicar quadrinhos na revista Quadreca. Logo depois comecei na Front, onde publiquei com mais regularidade, entre as edições 10 e 15.

Começo anotando ideias iniciais para possíveis histórias. Depois, seleciono o que é mais interessante e desenvolvo o roteiro escrito. Após todo o roteiro, realizo as primeiras cenas e ideias de enquadramento. Por fim, a finalização com nanquim, caneta e as vezes acrílica.

Como é seu processo criativo? Você tem uma rotina de criação? Tem metas? Como fazer pra chegar da ideia ao papel?
Procuro trabalhar com quadrinhos diariamente. Como tenho outras tarefas como professor, não realizo quadrinhos em tempo integral. Apesar disso, tento destinar diariamente de 2 a 6 horas com o meio. Começo anotando ideias iniciais para possíveis histórias. Depois, seleciono o que é mais interessante e desenvolvo o roteiro escrito. Após todo o roteiro, realizo as primeiras cenas e ideias de enquadramento. Por fim, a finalização com nanquim, caneta e as vezes acrílica. Nesse processo todo, muitas coisas podem mudar, tento aproveitar as melhores ideias. Minha produção não é tão elevada, creio que ultimamente realizo cerca de umas 130 páginas de HQ por ano.

Quais temas gosta de abordar?
Periferia, metrópole, história e cultura negra.



Quais suas principais referências? O que te inspira?
Tenho referências dos quadrinhos, cinema, literatura e música. O trabalho de autores como Spike Lee, Mahamat Saleh Horum, Ousmane Sembene, Toni Morrison, Plínio Marcos, Luís Fulano de Tal, Haneke, Kitano, Otomo, Tayio Matsumotu, Hideo Yamamoto, entre outros, me interessam bastante. 

No caso das HQs mais históricas, utilizo a pesquisa a fim de procurar as possíveis narrativas mais interessantes para fugir dos clichês e do já conhecido.

Qual é o seu trabalho de pesquisa para suas histórias?
No caso das HQs mais históricas, utilizo a pesquisa a fim de procurar as possíveis narrativas mais interessantes para fugir dos clichês e do já conhecido. Livros como Cumbe e o mais recente, Angola Janga (a ser publicado em 2017), tiveram vários anos de pesquisa e preparação. 



O que faz quando tem o famoso branco?
Nesse caso, recorro as minhas anotações de ideias para histórias. Uma década atrás tinha diversos “brancos”, hoje tenho mais ideias e histórias do que tempo para realizar. 


Qual a importância das personagens para as histórias? Qual seu trabalho de desenvolvimento de personagens?
Nos livros Noite Luz e Encruzilhada, começava a elaborar as narrativas a partir do conflito principal. Isso acaba ajudando a desenvolver a história e os personagens. Já quando fiz Cumbe, foi necessário mudar um pouco a forma de criação dos personagens. Era preciso acrescentar mais detalhes sobre o momento histórico em que eles estão situados. 

Como chegar até o público? Como estabelecer uma relação com o leitor?
Feiras e eventos de HQ são uma boa oportunidade para ter contato com o público leitor de HQs. Hoje a internet também é um meio indispensável.

Você consegue viver de quadrinhos?
Não. Atuo como professor também.  

Hoje ainda sinto que temos poucas informações sobre quem de fato consome quadrinhos, além dos aficionados do meio.

Quais as dificuldades do mercado brasileiro?
Hoje ainda sinto que temos poucas informações sobre quem de fato consome quadrinhos, além dos aficionados do meio.

Quais são as dificuldades na distribuição?
Não saberia falar sobre isso em detalhes. Mas uma boa divulgação na internet e os correios podem ajudar muito os autores independentes. 

O que aconselharia para quem está começando ou quer trabalhar com quadrinhos?
No caso de um autor de HQs, é imprescindível ter produção. Não tenha como foco publicar tudo o que produz, mas procure aprender com cada obra. Elas é que irão mostrar qual o melhor caminho a seguir. Após, selecione apenas o que considera o melhor para mostrar aos colegas e editores. Com muito trabalho, aprendizado e discussão é possível criar as bases para se desenvolver cada vez mais.  


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