Bastidores de “Roxana”. Stefania Vasconcellos com os atores Tina Masafret, Jesus Licciardello e Ryan Culkin, e a produtora Conswella Joyce, foto de Sarah Downing.
Obras como “Que Horas Ela Volta” (Anna Muylaert), “Amor, Plástico e Barulho” (Renata Pinheiro) e “Guida” (Rosane Urbes) são uma pequena mostra de que o melhor do cinema brasileiro atual está em mãos de mulheres. Pequena mesmo. Apesar dos filmes maravilhosos e dos ótimos resultados em festivais, o cinema brasileiro ainda sofre com a baixa representatividade na direção. Em pesquisa realizada por Paula Alvez, apenas 15,37% dos filmes nacionais foram dirigidos por mulheres entre 2011 e 2015. Em 2015 foram 19% de filmes dirigidos por mulheres e as obras escritas por elas ficaram em 23%. E as dificuldades começam na captação de recursos e se estendem até a distribuição. Em Hollywood não tem sido diferente. A luta feminista e sua busca por representatividade tem gerado discussões e resultados interessantes, tanto para aquelas que estão nas telas como as que estão nos sets.
Stefania Vasconcellos
No meio desse cenário todo, nós do Quadrinhólatra, conversamos com uma diretora brasileira que seguiu seus sonhos e foi se aventurar em Hollywood. Stefania Vasconcellos começou como bailarina, trabalhou com moda, foi atriz e partiu para o Rio de Janeiro estudar direção cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Realizou alguns curtas e decidiu partir para a gringa batalhar por seu espaço. E agora acaba de dirigir um longa, em parceria com outras diretoras, com produção executiva de James Franco. “Dark Hours: Roxana”, tem previsão de estreia para 2017 e conta com uma storyline instigante:
A beautiful, beguiled, young woman finds herself trapped inside of a women's mental asylum controlled by a malevolent staff and supported by its loyal and imperious society members, so when she is forced to take part in a theatrical performance of "Roxana," required of the patients as a form of therapy, she must find a way to save herself and her dear friend, Alice, from the darkness and also come to terms with her past.
Confira nosso bate papo com a diretora Stefania Vasconcellos:
Como é trabalhar em Hollywood?
É diferente, mas também não é tão diferente como a gente imagina, eu tenho trabalhado em filmes indie com low budget, então acho que não muda muito... Acho que a coisa deve mudar mesmo quando você faz filmes de Studio, onde se tem mais tempo e dinheiro... Mas uma coisa que pude observar é que aqui a galera é muito técnica, e muitas vezes não sabe improvisar, sabe? Não consegue ver muito fora da caixa, o que eu acho que isso é uma vantagem pra quem vem de fora...
É diferente, mas também não é tão diferente como a gente imagina, eu tenho trabalhado em filmes indie com low budget, então acho que não muda muito... Acho que a coisa deve mudar mesmo quando você faz filmes de Studio, onde se tem mais tempo e dinheiro... Mas uma coisa que pude observar é que aqui a galera é muito técnica, e muitas vezes não sabe improvisar, sabe? Não consegue ver muito fora da caixa, o que eu acho que isso é uma vantagem pra quem vem de fora...
Foi um projeto low budget com produção executiva do James Franco, passamos por uma pré seleção e então na segunda fase tivemos uma entrevista com ele, a partir da entrevista o James escolheria os seis diretores que iriam fazer parte desse projeto, ai eu fui selecionada junto com outras três diretoras e dois diretores
Conte–nos o que foi o projeto com o James Franco, qual função você exerceu e como foi a experiência.
Foi intenso (risos) mas foi uma experiência super bacana. Eu nunca tinha feito um longa antes e nunca tinha co-dirigido com tantos diretores. Foi um projeto low budget com produção executiva do James Franco, passamos por uma pré seleção e então na segunda fase tivemos uma entrevista com ele, a partir da entrevista o James escolheria os seis diretores que iriam fazer parte desse projeto, ai eu fui selecionada junto com outras três diretoras e dois diretores. A direção coletiva é muito interessante, por que você sempre tem que achar um equilíbrio dentro de tantos pontos de vistas diferentes, o que acaba sendo uma loucura também, mas acho que a gente se saiu bem, tivemos alguns conflitos claro, mas o que seria da vida e da arte sem o conflito, né? Tanto na vida quanto na arte somos movidos pelos conflitos. O que eu acho super bacana no James é que ele abre portas para novos cineastas, o que muita pouca gente faz por aqui... Ele sempre está de olho e produz muita coisa com diretoras mulheres o que eu acho mais bacana ainda.
Bastidores de “Roxana”. Stefania com o Fotografo Alex Grossfeld, foto de Bianca Poletti.
Sentiu diferença em trabalhar com equipes brasileiras e gringas?
Acho que aqui você tem mais oportunidade, como a demanda é maior você consegue trabalhar com bons equipamentos e gente boa com um budget pequeno, aqui todo mundo tem uma RED, e você consegue alugar uma Alexa por um preço justo. Mas como no Brasil você tem que se “virar nos 30” pra fazer um filme quando você não tem lei de incentivo, você acaba sendo mais criativo e rápido, aqui eles não entendem a “gambiarra”, são muito presos na teoria e na técnica do film school.
Qual era sua percepção de Hollywood antes de sua experiência por lá e como é agora?
Não sei te dizer, eu não tinha muita noção de como as coisas funcionavam aqui, acho que ainda estou aprendendo muita coisa, mas me dei conta que cinema é um business, que quero fazer um filme para o publico, quero fazer dinheiro com meus filmes e não acho errado esse pensamento, mas antes eu não pensava assim queria apenas fazer um “filme francês” (risos). Acho que mudei bastante meu ponto de vista em relação ao cinema morando aqui, a paixão é a mesma, mas a forma de ver o cinema é diferente, acho que o desafio é fazer um filme artístico mas que seja comercial ao mesmo tempo, esse é meu objetivo.
Bastidores de “(no) sola”. Stefania com Biaca Poletti e Daniela Azuaje, foto de Gaby Azuaje.
Qual sua trajetória no cinema? Como entrou na área e como chegou até Hollywood?
Eu fui bailarina durante anos, trabalhei com moda também fazendo stylist, e ai depois virei atriz, foi quando decidi ir morar no Rio de Janeiro. Durante esse meu tempo no Rio fui descobrindo muitas coisas e uma das coisas que mudou minha vida foi ter feito a Darcy Ribeiro, fiz o curso de direção lá, quando comecei não tinha muito certeza do que estava fazendo, mas ai me apaixonei pelo cinema, por ficar atrás das câmeras, hoje em dia morro de vergonha de ficar em frente as câmeras, mas na época foi um processo um pouco doloroso, você mudar, mudar seus sonhos, é como se apaixonar por uma pessoa estando em um relacionamento com outra, é difícil abandonar um amor que você já esta “acostumado”, essa foi a sensação que eu tive quando decidi que queria ser diretora, mas sei lá quando a paixão é forte acaba virando amor, não consigo imaginar minha vida sem o cinema. O Rio foi um período de transição pra mim, de muito aprendizado. Acho que tudo que passamos na vida nos traz ao lugar que estamos hoje, acho que todas as escolhas que fiz me trouxeram pra Los Angeles, eu poderia ter ficado no Brasil, mas decidi tentar, segui minha intuição e meu coração.
Quais são seus trabalhos anteriores?
Eu fiz alguns curtas, um deles foi o único curta brasileiro em 2014 no festival de Estocolmo e foi para vários festivais pelo mundo, fiz alguns clipes, dirigi um comercial aqui e dirigi uma segunda unidade aqui para um comercial do Brasil. Fiz meu primeiro longa com direção coletiva, agora estou escrevendo um roteiro, que é um projeto bem especial pra mim e estou trabalhando com uma das diretoras do projeto com o James Franco, a Bianca Poletti, que além de ser uma ótima diretora é uma talentosa Diretora de Fotografia, em um projeto de curtas onde a ideia é contar mini historias sobre um dia na vida de uma mulher e as historias se conectam de alguma forma. O primeiro que rodamos foi o “(no) sola” com a talentosa atriz venezuelana Daniela Azuaje.
Bastidores de "(no) sola”. Stefania com Bianca Poletti e Daniela Azuaje, foto de Gaby Azuaje.
Você também é roteirista. Qual seu processo de criação?
Eu não gosto de me considerar roteirista por que eu acho que tenho muita coisa pra aprender pra ser uma roteirista, eu acho que tenho boas ideias, e sempre coloco no papel essas imagens que me vem a cabeça, só escrevo coisas que eu vou dirigir. Meu processo criativo não é muito linear. Eu tenho epifanias criativas diárias, acho que faz parte do meu ser aquariano ficar “viajando” nas coisas, eu vejo uma imagem e me vem um filme, leio algo e isso me inspira, tento ficar sempre aberta as coisas ao meu redor. E quando decido o filme que quero fazer e começo a escrever, sempre primeiro vem a imagem e logo depois o som, a musica da cena, então busco musicas que me fazem sentir o filme e ai escrevo escutando essas musicas, mas as vezes também vem primeiro o som e depois a imagem.
Me sinto feliz de poder estar aqui em LA nesse momento de transição na indústria hollywoodiana, eles querem gente de fora, mulheres, negros, acho que finalmente Hollywood se deu conta de que o mundo não é feito apenas por homens brancos.
Quais as dificuldades para um brasileiro em Hollywood?
Eu acho que primeiro de tudo você precisa dominar a língua. Depois entender como as coisas funcionam aqui, procurar um curso na área, conhecer pessoas, tudo isso faz você criar conexões e oportunidades podem surgir. Mas acho que devemos olhar sempre como uma oportunidade o fato de sermos estrangeiros aqui e não como uma dificuldade, somos diferentes deles, temos um ponto de vista único de toda as diferentes experiências que passamos, acho isso lindo na real. Essa diversidade toda é muito bela. Me sinto feliz de poder estar aqui em LA nesse momento de transição na indústria hollywoodiana, eles querem gente de fora, mulheres, negros, acho que finalmente Hollywood se deu conta de que o mundo não é feito apenas por homens brancos.
Quais as dificuldades para as mulheres na área audiovisual?
Existem muitas, mas sinto que as coisas estão mudando, gosto de ser otimista, mas uma certa vez aqui fui tomar um café com um coach de roteiro, ele é branco, homem e tem uns 60 anos, e ele me disse algo que nunca vou esquecer, ele falou Stefania, você é super criativa, seu roteiro é bem legal, mas você é brasileira e é mulher, vai ser muito difícil pra você entrar em Hollywood. Eu sai de lá e pensei comigo, claro que não, isso é que vai fazer com que eu entre (eu sou teimosa também) o fato de ser mulher e brasileira é que me faz diferente deles, essa diferença que constrói o meu ponto de vista artístico. E acho que é difícil pra todo mundo inclusive pra os homens, acontece que somos uma minoria então fica um pouco mais difícil pra nós mulheres, mas isso está mudando, estamos nos unindo mais, nos ajudando mais e isso é maravilhoso. A Kathryn Bigelow disse uma frase que eu concordo, algo mais ou menos assim “se existe uma resistência para que as mulheres façam filmes, eu escolho ignorar isso como um obstáculo por duas razões: eu não posso mudar meu gênero e eu me recuso a parar de fazer filmes.”
(...) se você estiver parado não existe sorte que te leve, cinema é movimento, a vida é movimento, inércia é a morte.
Que conselhos gostaria de dar para as mulheres que desejam seguir carreira na área audiovisual?
Siga! Façam seus filmes! Se juntem, forme sua turma por que cinema não se faz sozinho! Eu sempre trabalho com mulheres, mas meio sem querer, por que todas as minhas amigas estão relacionada de alguma forma com o áudio visual, então é meio natural pra mim ter uma equipe bem feminina. Então se você e sua amiga tem uma ideia, criem juntas, não esperem ninguém fazer as coisas por vocês. Sejam feministas, mas também não percam tanto tempo com mimimi, escrevam seus roteiros e façam seus filmes, criem suas oportunidades, seu trabalho vai sempre falar mais alto! Eu prefiro acreditar nisso. Eu acredito muito no trabalho, acho que existe o fator sorte também, claro, mas se você estiver parado não existe sorte que te leve, cinema é movimento, a vida é movimento, inércia é a morte. Uma vez assisti uma aula na UCLA e depois teve um bate papo com a Michelle MacLaren, e ela disse a mesma coisa, existe a desigualdade de gênero, sim, mas aqui em Hollywood se seu filme tiver sucesso e fizer dinheiro ninguém te para.
Bastidores de"(no) sola”. Stefania com Bianca Poletti e Daniela Azuaje, foto de Bianca Poletti.
Mandou muito Steff! Sou fã!
ResponderExcluirQue orgulho da minha amiga! ������
ResponderExcluirParabéns linda STEFANO A!!!
ResponderExcluirSUCESSO!!!!
Amei Stefania!!! <3 Você é um orgulho para nós mulheres do cinema! Quem sabe um dia trabalharemos juntas :D
ResponderExcluirSucesso, foco e fé! :D
Parabéns linda STEFANiA!!!
ResponderExcluirSUCESSO!!!!