Os Mundos Fantásticos de Moebius
Roteiro e desenhos: Moebius
Editora Globo/ 1991 / 66 pág / colorido
Diferente do quadrinho padrão estadunidense, no gibi europeu você não compra o herói, você compra o autor. Que o diga o francês Moebius. Seu nome vem estampado com letras enormes, ocupando boa parte da revista, enquanto que o título da mesma vem pequeno em algum canto, às vezes quase imperceptível.
E não é por menos. Escreveu os faroestes do Tenente Blueberry, foi um dos criadores da importantíssima revista Metal Hurlant (que os americanos copiaram como Heavy Metal) e foi o designer de filmes como Tron, Quinto Elemento e Alien! Além, óbvio, de ter feito a mais louca e sem noção ficção científica dos quadrinhos, a Garagem Hermética.
Publicada aqui no Brasil pela Editora Globo, em “Os Mundos Fantásticos de Moebius” nº 1, ela vem acompanhada de mais duas histórias: “A Caçada ao Francês de Férias” e “Major Fatal”. Antes de cada uma delas, Moebius faz uma pequena introdução contando quais eram suas idéias por traz das histórias.
Sobre “A Caçada ao Francês de Férias” Moebius escreve:
“A mulher encarregada da sessão de quadrinhos (do jornal France-Soir) queria algo especial para o verão e pediu a cinco ou seis artistas para fazerem uma página durante uma semana sobre o tema “O Francês em Férias”. Ela queria algo simples e engraçado, mas, como sempre, preferi o absurdo e o esotérico. “A Caçada” foi saudada com total incompreensão pela maioria dos leitores do “France-Soir”. De certa forma, a culpa foi minha, pois não respeitei suas predileções e limitações. Mesmo assim, me diverti bastante com ela.”
Já para a “Garagem Hermética”:
“Desenhei as duas primeiras páginas com a intenção de fazer uma grande piada, um mistério total, algo que, provavelmente, não levaria a lugar nenhum. E, mesmo assim, também estava tentando criar alguma coisa capaz de captar o sentimento de alegria e fantasia dentro de mim, quase como se eu estivesse relembrando a parte incompleta de um sonho.
Após terminar aquelas duas páginas, coloquei-as numa gaveta e me esqueci completamente delas, até Jean-Pierre Dionnet, então editor da revista “Metal Hurlant”, as encontrar. Ele me pediu para fazer um fim, pois assim poderia publicá-las. Eu disse que desenharia para a próxima edição.
No mês seguinte, ele me chamou e cobrou o final da história e eu, é claro, tinha me esquecido completamente. Então, em estado de pânico, fiz mais duas páginas para ganhar tempo. No entanto, como não possuía cópias nem referências das duas primeiras, o segundo capítulo foi feito sem nenhuma continuidade com a anterior.
Foi apenas com a terceira parte que comecei a dar a direção à história e trouxe de volta o Major Grubert. Logo, eu decidi experimentar a criação do argumento como uma espécie de desafio mensal a mim mesmo, para resolver os problemas de seqüência introduzidos anteriormente.
Ao criar este sentimento de permanente insegurança, eu descobri o prazer da continuidade. Todo mês,eu tentaria, com certa dificuldade, recriar uma trama coerente a partir dos elementos existentes. Então, as separaria outra vez para me sentir inseguro novamente e, assim, no mês seguinte, unir os pedaços e começar tudo de novo, até o final da história.
Eu, finalmente, juntei todas as pontas nas últimas quinze páginas (feitas de uma só vez).Entretanto você notará algo: a história “termina” numa seqüência que introduz um fator de incoerência potencialmente ilimitado.”
Talvez por essa incoerência de “Garagem Hermética” (putz, põe ser incoerente essa história) eu tenha preferido “A Caçada ao Francês de Férias”.
Quino
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