Por Augusto Bier – jornalista e chargista
O ano de 2017 marca os 193 anos do início da imigração alemão para o Brasil. O estado do Rio Grande do Sul, berço da imigração, apresenta hoje uma população de origem teuto culturalmente integrada. Nesse cenário chama atenção um fenômeno na imprensa: a publicação de tiras de humor com personagens étnicos .
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Alemão Blau - Bier |
Porto Alegre abriga um significativo grupo de caricaturistas de diversas origens. Os autores de tiras cômicas fazem parte dessa milícia que, na sua experiência com a ditadura, tiveram confrontada as suas origens. Neste quadro as questões da identidade cada vez mais afloram e queremos saber quem somos diante do mundo, dos demais brasileiros, dos outros gaúchos e – no momento de criar uma piada sobre a própria etnia – também frente a nós mesmos.
Publicados a partir dos anos 1970, sob o influxo do Movimento Nativista, que questionava a memória do gaúcho tradicional, os desenhos com personagens de outras etnias emergem como um emblema. Afinal, demonstram que o mosaico étnico riograndense transcende os descendentes do gaúcho primitivo, como o cultuado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho ( MTG).
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Taurino Fagunde - Santiago |
Em outras regiões do Brasil, quando se fala no gaúcho, a imagem construída é aquela do gentílico armado e pilchado. O tipo atiçou os humoristas de forma especial a partir de 1930, quando Getúlio chegou à presidência. Surgido há mais de três décadas, o Analista de Bagé, personagem de Luís Fernando Veríssimo, deve ser o exemplo mais acabado sobre o assunto, quadrinizado pelo cartunista Edgar Vasques na revista Playboy. Antes disso, apenas o cartunista Santiago, com o personagem Taurino Fagunde, divertia todos os gaúchos com suas tiras.
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Analista de Bagé - Luis Fernando Veríssimo e Edgar Vasques |
Resultados do arejamento nativista: Radicci, o ítalo-gaúcho, do cartunista Iotti, aparece em 1983 no jornal “O Pioneiro”, de Caxias do Sul, e o Alemão Blau, o teuto-gaúcho, criado por mim, nasce no jornal para cooperativas “O Interior”, de Porto Alegre, em 1986. Esses personagens emergem como um aceno dentro do cenário submetido pelo tradicionalismo. Era o humor sugerindo que outras culturas do povo gaúcho também tinham sua história para contar. Só mais tarde, já fora desse movimento, vão surgir mais quatro personagens étnicos. Publicados no “Diário Gaúcho” (RBS), a partir de 2000, surgem o afro Nego Tinga , de Alexandre Oliveira, o gaudério Tapejara, de Paulo Louzada. E, em São Luiz Gonzaga, em publicação local, surge o gaúcho Virso, de Sávio Moura. Por fim, vem Cruzaltino, o gentílico de Henrique Madeira e Greice Pozzatto, publicado em Cruz Alta, terra natal de Érico Veríssimo. Estão, pois, contemplados o gaúcho, o ítalo-gaúcho, o afro-gaúcho e o teuto-gaúcho.
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Radicci - Iotti |
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Tapejara - Louzada |
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Nego Tinga - Alexandre Oliveira |
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Cruzaltino - Henrique Madeira e Greice Pozzatto |
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Virso - Sávio Moura |
Talvez o Rio Grande do Sul seja o único estado a ter em seus jornais a veiculação de desenhos de humor com tantos personagens étnicos. Enquanto a miscigenação das etnias formadoras do povo brasileiro vai se dirigindo para o que Darcy Ribeiro chamou de “raça cósmica”, no Sul este processo é mais lento e estanque. Isso facilita a identificação de cada grupo dentro do todo. E ainda cria o ambiente para o exercício do humor e do riso mais afiado de uns sobre os outros. Afinal, rimos melhor de quem e com quem conhecemos mais, numa gauchidade diversa e integrada.
Savio Moura,referencia importante, nada mais justo!
ResponderExcluirtem muito humor sobre a dupla Gre-nal?
ResponderExcluirTem muito. Acredito que, inclusive, seja o assunto mais abordado.
ExcluirJá vi o Louzada perder alguns seguidores gremistas no Facebook com uma tirinha que ele fez.
Louzada deve ter perdido seguidores colorados com o rebaixamento do Inter
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